“Las personas no son extranjeras em sí mismas
sino para alguém o alguno que así as definen”
Olga Sabido Ramos
segue transcrição¹:
preciso escrever… porque hoje foi um dia longo, de esperas e reencontros. abaixo os fragmentos do dia:
0h00 [ou mais ou menos isso] – eu e luiza. ela com seus 9 anos e eu com meus quase 33. conversamos sobre coisa da vida e tivemos um pouco de paz². [nessas férias fui seu segundo pai. o cara que fica cuidando dela até a vó dela chegar em casa…]
1h00 [ou…] ela dorme no sofá. e ronca a criatura. sentirei falta dela quando ela for embora. ela bem parceira para jardinagem, caminhadas, contação de histórias, jogos…
1h30 [ou…] na teve passa moscou.
«eu quero ir para moscou…
(…) eu preciso saber da sua vida (…) razão de minha paz já esquecida (…) / peço alguém pra me contar sobre o seu dia (…) / como vai você? / que já modificou a minha vida / razão de minha paz já esquecida / (…) anoiteceu e preciso só saber / vem que a sede de te amar me faz melhor / eu quero amanhecer ao seu redor / preciso tanto me fazer feliz / vem que tempo pode afastar nos dois / não deixe tanta vida pra depois / eu só preciso saber… como vai você?»
[moscou, documentário de eduardo coutinho, ano 2009. grupo galpão, peça três irmãs, de tcherkhov; música de antônio marcos e mario marcos]
2h00 [ou..] dona ica, minha mãe chega, e sou dispensado do posto de adulto responsável pelos cuidados de luiza. vou para casa e tento dormir.
8h30 [ou…] era para o despertador ter tocado…
9h30 [ou…] era para eu ter levantado…
11h50 [ou…] era para eu ter pego o ônibus…
12h20 [ou…] era para eu ter chego. mas não cheguei. estou aqui cozinhando neste calor infernal. 3km andados e nenhuma carona.
13h00 [ou…] cheguei. era para eu ter dito algo mais ou menos assim: te trouxe a coisa mais bonita que posso te dar hoje: eu estar aqui de coração aberto para te amar. mas como sou rapaz tímido, só lhe dei uma abraço e trocamos algumas palavras. essa intimidade é um processo. esse é meu jeito. sou assim.. arrisco, arredio… no primeiro contato. mas sei que já fomos mais fundos.
14h00 [ou…] você iria ao boca, eu pagaria as contas de outros, regularizaria pendências contratuais e compraria a erva que falta.
16h00 [ou…] eu havia traçado planos… a) ingenuamente eu iria com você no bloco, se você fosse naquela hora, e realizaria meu corres antes de ir para escola, em alguma hora; b) nos despediríamos, momentaneamente, em sua casa, eu correria, e nos reencontraríamos no centro; c) eu partiria, faria meus corres e compraria um smartphone e um tênis [coisas que ando precisando]; mas nenhum plano deu certo. e estou neste momento d: estou tonto, cumprindo tarefas… mas meu perdido, assim, mais que barata tonta. ando para lá e para cá indeciso… me atordoei e estou lento – talvez eu devesse ter almoçado. e um parêntese aqui: sair de casa e de si mesmo permite a nós o reencontro com algo bonito. eu cumprimento amigos e pessoas estranhas. e levo comigo uma face tranquila e feliz, e acredito que esse rosto iluminado, contente, encoraja as pessoas a retribuir. é bonito isto… esse vínculo com o mundo… que quase sempre é tão impessoal. o mais bonito disto tudo é tua existência e esse sentimento que tenho por ti. sentimento este que me faz ser melhor quando me permito vive-lo e viver-me.
18h00 [ou…] eu deveria estar indo para escola…
19h00 [ou…] já deveria estar na escola… essas filas me roubam um pedaço da vida. mas eu roubo de volta… eu leio. quase sempre. e no momento é sobre “os estabelecidos e os outsiders” de norbert elias. já pensando nesse próximo ano letivo.
22h00 [ou…] já deveria estar em casa. mas estou aqui neste translado… andando quilômetros… a lua está cheia e linda; descobri a poesia de d. w. cavalcanti [que não encontrei nenhum link na rede. ps: encontrei, é que havia invertido o w. d.] e música de makalister renton [que achei que fosse mais bacana, mas não gostei não. ao menos não por agora.]
22h45. agora… já deveria ter terminado de escrever isto aqui. termino agora.
anotar escrito no texto.
eu sou bonito. não esquecer. não tenha vergonha de ser quem és. de demonstrar francamente. e de errar. não queira agradar.